O método mais comum para se medir distâncias grandes, a pontos inacessíveis, é a triangulação. Na figura abaixo está esquematizado, como exemplo, a maneira de medir a distância de uma árvore localizada do outro lado de um rio, sem atravessá-lo:
Tomando a árvore como um dos vértices, construímos os triângulos semelhantes ABC e DEC. BC é a linha de base do triângulo grande, AB e AC são os lados, que são as direções do objeto (a árvore) vistas de cada extremidade da linha base. Logo
Como posso medir BC, DE e EC, posso calcular o lado AB e então, conhecer a distância da árvore.
Vemos que a direção da árvore, vista de B, é diferente da direção da árvore vista de C. Esse deslocamento aparente na direção do objeto observado devido à mudança de posição do observador chama-se paralaxe. Os astrônomos, no entanto, medem o dobro desse deslocamento, como está ilustrado na figura abaixo.
A figura abaixo ilustra o mesmo problema em termos dos ângulos envolvidos.
Suponha que o ponto O seja o objeto cuja distância eu quero medir
(a árvore da figura anterior). D é a linha de base do triângulo,
e os ângulos e
são os ângulos entre a direção do objeto
visto de cada extremidade da linha base e a direção de um objeto
muito mais distante, tomado como referência (pode ser uma montanha no
horizonte, no exemplo anterior).
Pela trigonometria, sabemos que
Como p é conhecido (), e D também é
conhecido, podemos medir a distância d. Para ângulos pequenos,
a tangente do ângulo é aproximadamente igual ao próprio ângulo
medido em radianos. Se
.
Então:
Como p é medido em radianos, d terá a mesma unidade de D.
Transformação de graus em radianos
Em radianos, um ângulo é medido pelo arco que ele encerra,
dividido pelo raio. Na figura abaixo, o arco de circunferência
a corresponde ao ângulo . Logo o valor de
em
radianos é
Paralaxe geocêntrica e heliocêntrica
O mesmo método de triangulação explicado acima é usado para medir a distâncias de objetos astronômicos. Mas como esses objetos estão muito distantes, é necessário escolher uma linha de base muito grande. Para medir a distância da Lua ou dos planetas mais próximos, por exemplo, pode-se usar o diâmetro da Terra como linha de base. Para se medir a distância de estrelas próximas, usa-se o diâmetro da órbita da Terra como linha de base.
Paralaxe geocêntrica
Atualmente a determinação de distâncias de planetas é feita por radar, e não mais por triangulação, mas antes da invenção do radar os astrônomos mediam as distâncias da Lua e de alguns planetas usando o diâmetro da Terra como linha de base. A figura abaixo ilustra o problema para a determinação da distância da Lua.
A posição da Lua em relação às estrelas distantes é medida duas vezes, separadas por um intervalo de tempo de 12 hr . Nesse tempo a Terra completou meia rotação, e a paralaxe corresponde à metade da variação total na direção observada dos dois lados opostos da Terra. Essa paralaxe é chamada paralaxe geocêntrica, e é expressa por:
Paralaxe heliocêntrica
A paralaxe heliocêntrica é usada para medir a distância das estrelas mais próximas. À medida que a Terra gira em torno do Sol, podemos medir a direção de uma estrela em relação às estrelas de fundo quando a Terra está de um lado do Sol, e tornamos a fazer a medida seis meses mais tarde, quando a Terra está do outro lado do Sol. A metade do desvio total na posição da estrela corresponde à paralaxe heliocêntrica, que é expressa por:
A unidade astronômica
A técnica mais acurada para determinar o comprimento da unidade astronômica é por radar. No entanto, a determinação não pode ser feita diretamente, pois se um sinal de rádio fosse emitido diretamente ao Sol, seu eco ficaria perdido no meio de todos os sinais de rádio que o Sol emite. Portanto se usa uma medida indireta. Por exemplo:
Suponha que um sinal de radar é enviado a Marte, quando este planeta está em oposição, sendo encontrado que sua distância à Terra é 78 389 294 Km. A distância média de Marte ao Sol é determinada pela terceira lei de Kepler como sendo de 1,52 UA. A distância entre Terra e Marte, para Marte em oposição, é portanto 0,52 UA. Então
A distância de qualquer objeto, com paralaxe helicêntrica p, calculada em unidades astronômicas, é dada por:
O ano-luz
O ano-luz (AL) é a distância percorrida pela luz em um ano. Essa distância equivale a:
Determinação da velocidade da luz
A determinação da velocidade da luz foi feita pela primeira vez em 1675, pelo astrônomo dinamarquês Olaus Roemer (1644 - 1710), medindo o intervalo entre sucessivos eclipse da lua Io, de Júpiter, para diferentes pontos da órbita da Terra.
O intervalo de tempo entre os sucessivos eclipses é o período
de revolução do satélite, que pode
ser calculado pela 3a. Lei de Kepler. Roemer verificou que os eclipses
ficavam atrasados quando Júpiter estava mais distante da Terra,
e adiantados quando Júpiter estava mais próximo da Terra.
O atraso total quando a Terra ia de para
era de
1000 segundos. Roemer atribuiu o efeito ao tempo que a luz levava para
ir de um ponto da órbita da Terra ao outro, isto é, do tempo
que a luz levava para atravessar a diferença da distância
entre o satélite e a Terra.
Para ficar mais claro, vamos considerar que é a hora
em que ocorre o eclipse quando a terra está na posição
. Como
a luz tem velocidade finita, o eclipse só será visto na Terra
num tempo posterior, dado por:
onde c é a velocidade da luz, e é a distância
entre a Terra e Júpiter na posição
.
Após um tempo , a Terra estará na posição
,
e vamos chamar de
a hora prevista para acontecer o eclipse.
Mas na Terra, o eclipse só será observado a uma hora:
Logo, o intervalo de tempo observado entre os eclipses,
, é maior do que o intervalo de tempo
real entre os eclipses,
. A diferença
vai ser:
Se esta diferença é de 1000 s, então:
Como a
melhor estimativa para o eixo maior da órbita da Terra era 241 500 000 Km,
Roemer deduziu a velocidade da luz como sendo
A distância da Terra ao Sol foi medida em 1673, medindo-se a paralaxe de Marte em oposição, e sabendo-se que a distância a Marte é de 1,52 UA, como derivado por Copérnico. A paralaxe de Marte foi determinada com medidas em Paris e simultaneamente na Guiana Francesa. Hoje sabemos que o eixo maior da órbita da Terra é 299 195 786 Km, então a velocidade da luz é:
Se um avião pudesse viajar à velocidade da luz, ele daria 7 voltas completas em torno do equador da Terra em 1 segundo.
O Parsec
1 Parsec é a distância de um objeto tal que, um observador nesse objeto
veria o raio da órbita da Terra com um tamanho angular de ,
ou em outras palavras, é a distância de um objeto que apresenta paralaxe
heliocêntrica de
.
A distância de um parsec, em unidades astronômicas, corresponde a
Mas um ângulo de , expresso em radianos, vale
Logo:
A distância de um objeto, expressa em parsecs, é dada por:
Um parsec, portanto, é igual a 206 265 UA, e é igual a 3,26 AL.
Resumindo as três unidades, para uma estrela com paralaxe heliocêntrica qualquer, sua distância será:
A estrela mais próxima da Terra, Próxima Centauri, está a uma distância
de 4,3 AL, que é maior do que 1 pc. Logo mesmo para a estrela mais próxima
a paralaxe é
menor do que 1 (na verdade é 0,76
).
Até poucos anos, com os telescópios disponíveis na Terra,
a maior distância de estrelas que se podia medir com precisão melhor do que
10% era 20 pc, que corresponde a paralaxes . O uso de CCD e telescópios dedicados baixou a incerteza das observações na Terra para até 1 mili-segundo de arco, similar à incerteza das medidas do
satélite HIPPARCOS (High-Precision Parallax Collecting Satellite),
construído para medir com alta
precisão a posição e a paralaxe
de 120 000 estrelas. Ele foi lançado em agosto de 1989 e que operou
com sucesso por 3 anos, apesar de não ter alcançado a
órbita geoestacionária pretendida. É importante notar
que 1 mili-segundo de arco é equivalente
ao tamanho angular de uma pessoa na superfície da Lua vista da Terra.
Para atingir esta precisão, foi necessário corrigir pelo
efeito de desvio da luz pelo Sol previsto pela relatividade geral, e que
é de 1,7 segundos de arco na borda do Sol, e 4 mili-segundos de
arco a 90° do Sol.
Questão:
A paralaxe de Sírius é . Determine a
distância de Sírius em parsecs, em UA e em AL.
Introdução à Astronomia e à
Astrofísica